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Novo gênero de bromélia é batizado com nome de Siqueiranthus cinereus em homenagem a professor da Univasf

Por: Renata Freitas - Univasf (Acesse a publicação Original)
Uma bromélia diferente, rara e já ameaçada de extinção foi encontrada numa região de Mata Atlântica, no estado de Alagoas. Análises morfológicas, anatômicas e moleculares constataram que a planta caracteriza-se não apenas como uma nova espécie, mas também como um novo gênero da família Bromeliaceae. A planta recebeu o nome de Siqueiranthus cinereus em homenagem ao professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) José Alves de Siqueira Filho, do Colegiado de Ciências Biológicas, um dos maiores estudiosos de bromélias do Brasil, que tem 37 novas espécies já publicadas.

A descoberta dupla, de novo gênero e espécie, considerada uma raridade na Botânica, é assinada pelos pesquisadores Elton M. C. Leme, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e pesquisador associado do Marie Selby Botanical Gardens, de Sarasota, nos Estados Unidos; Georg Zizka, do Institute of Ecology, Evolution and Diversity, da Universidade Goethe, na Alemanha; Everton Hilo de Souza, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); e Juraj Paule, do Senckenberg Research Institute and Natural History Museum Frankfurt, na Alemanha. O estudo realizado pelo grupo, que contou com a participação de outros pesquisadores de instituições do Brasil e do exterior, foi publicado no final de abril na revista internacional Phytotaxa, no artigo “New genera and a new species in the “Cryptanthoid Complex” (Bromeliaceae: Bromelioideae) based on the morphology of recently discovered species, seed anatomy, and improvements in molecular phylogeny”.

A Siqueiranthus cinereus foi encontrada numa região de serras do município de Ibateguara (AL), situado a cerca de 80 quilômetros de Maceió. O professor da Univasf José Alves de Siqueira Filho, que durante seu mestrado e doutorado percorreu as áreas de Mata Atlântica ainda conservadas nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, fez a coleta da planta em 2021 e a enviou aos outros pesquisadores para a realização das análises taxonômicas.

De acordo com Everton Hilo de Souza, professor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFRB, responsável pelo estudo taxonômico, a planta passou por diversas análises, necessárias para sua identificação e classificação dentro de um gênero ou espécie da família Bromeliaceae. “As características morfológicas dessa planta, como tamanho, tipo e cor de folhas e flores, grãos de pólen, entre outras, não se encaixavam com as de nenhuma outra espécie já identificada”, relata Souza. Estavam, portanto, diante de uma nova espécie de bromélia.

As análises anatômicas da planta foram realizadas no Laboratório de Anatomia Vegetal (LAVeg), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com os estudos morfológicos e anatômicos concluídos, os pesquisadores partiram, então, para a análise molecular com o sequenciamento genético do exemplar, realizado na Alemanha, etapa decisiva para identificar o gênero da espécie.

Para o botânico Elton M. C. Leme, que também é desembargador do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro, advogado especializado em meio ambiente e considerado o maior especialista em bromélias no mundo, com 626 novas espécies e gêneros de plantas da família Bromeliaceae já publicadas e autor de diversos livros sobre o assunto, aquela bromélia encontrada em Alagoas era, na verdade, o primeiro indivíduo de um novo gênero. A planta havia sido classificada anteriormente como uma nova espécie do gênero Cryptanthus, mas os novos estudos a reposicionaram como a primeira espécie de um novo gênero da família Bromeliaceae. “Consideramos uma excelente oportunidade para homenagear alguém que tem lutado pela conservação da natureza e pelo conjunto de sua obra em defesa do meio ambiente”, afirma Leme sobre a escolha do nome que batizou o gênero de bromélia recém descoberto.

José Alves e a planta que recebeu seu nome.

Honrado com a homenagem, o professor José Alves de Siqueira Filho ressalta que esse novo gênero já surge com sua única espécie em risco de extinção. “Essa planta é uma raridade. Na coleta, percebi que a diferença entre ela e as outras bromélias era muito grande e as análises comprovaram isso. Ela só existe no local de origem e aqui na Univasf, com amostras no Herbário do Vale do São Francisco e na coleção viva. Isso mostra a importância de conservar a biodiversidade e cuidar das coleções de plantas vivas”, diz. Fundador e curador do Herbário do Vale do São Francisco (HVASF), que conta com três das maiores coleções de bromélias do Brasil, Siqueira Filho destaca a relevância da descoberta de um novo gênero na botânica. “A descoberta de uma espécie nova para a Ciência é algo difícil. Um novo gênero é mais raro ainda”, observa ele, que também é fundador e diretor executivo do Centro de Referência para a Recuperação em Áreas Degradadas (Crad) - Bioma Caatinga da Univasf.

O processo de identificação de novas espécies, gêneros ou famílias na botânica é complexo, mas tornou-se mais ágil devido à evolução tecnológica e ao avanço de técnicas para identificação e classificação das plantas. Na escala da classificação taxonômica uma espécie faz parte de um gênero de indivíduos que compartilham características semelhantes e que formam uma determinada família, mais abrangente. O sistema de nomenclatura dos organismos é binomial, isto é, composto pelo nome do gênero seguido pelo nome da espécie.